17.12.09

o salto

quero saltar
meus pés cautelosos se aproximam do precipício
não quero me entregar à morte
quero o outro lado do abismo.

mas é longe
é distante aonde quero pousar
me dá vertigens olhar aonde posso cair
é quase insensatez o quanto terei que voar.

talvez meus erros
ou o destino aos tropeços me trouxe aqui
mas só me resta um acerto ou um derradeiro erro
do outro lado pouso ou lá embaixo... caio.
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27.11.09

Da série: meus poemas preferidos

Oh estações, oh castelos!
Que alma é sem defeitos?

Eu estudei a alta magia
Do Amor, que nunca sacia.

Saúdo-te toda vez
Que canta o galo gaulês.

Ah! Não terei mais desejos:
Perdi a vida em gracejos.
Tomou-me corpo e alento,
E dispersou meus pensamentos.

Ó estações, ó castelos!

Quando tu partires, enfim
Nada restará de mim.

Ó estações, ó castelos!

JEAN-ATHUR RIMBAUD

4.11.09

As minhas horas

Tem horas em que são mil as coisas que quero
Noutras horas, apenas uma espero.
Há aquelas horas nas quais sou invencível
Mas também há quando me sinto desprezível.
Tenho horas de um transbordamento de ternura e amor
Mas também tenho aquelas de desprezo e rancor.
Tem horas que sou brilho nos olhos, fogo e ousadia
Tem horas que sou medo, temor e covardia.
Tem horas que, admirável, como mestre ensino
Em outras nada sou além de um menino.
Em certas horas sou belo, original e até atlético
Noutras horas incertas sorrio do meu jeito patético.

Quando me assombro ao perguntar como viver entre horas assim
Lembro-me que, ainda bem, algumas horas são bem mais que outras,
E então, ao menos agora, meu coração se aquieta em mim.
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1.10.09

Fascinação

Uma vez li uma reportagem de uma moça que ao ficar ansiosa, triste ou aflita... se cortava e se acalmava vendo o sangue escorrer.
Quem lia comigo fez cara de horror.
Mas os meus olhos brilhavam
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Fascinação.
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28.9.09

lá fora

as verdades que desconheço e tanto anseio
estão lá
lá fora onde se esconde esse mistério
silencioso
insinuante através das sombras
se escondendo
ora me espreitando
ora dos meus passos
fugindo
me atraindo para ir lá
lá fora
onde me esperam as incertezas
onde são tantas as sutilezas
onde desmoram as fortalezas
que me mantêm aqui
a salvo
dos mistérios que me esperam
lá fora.
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Como se muda uma história?



A história da gente, da vida da gente, como se muda?

Ou,
muda-se como?
Mata a gente ficar resmugando
reclamando
maldizendo
chorando
apenas querendo
mundo novo ou só uma vida nova ou só
um dia novo diferente
dos dias tão velhos, que já nascem velhos e ficam
empoeirando a alma.
Como se muda uma história?
alguma
sugestão?
alguém
alguém
alguém?

3.9.09

sobre morrer

Eu vou morrer
Chegará o dia em que será inevitável
Nesse dia não quero dá bobeira
Não quero morrer fazendo algo estúpido
(de modo que alguém ao ver meu corpo inerte diga apenas: "que idiota")
Não quero morrer levando comigo outros que ainda tinham muito a viver
Também não quero ser um babaca e morrer embriagado ou entupido de drogas. Só se morre uma vez e eu não quero estragar tudo.
Como meu amigo Jim, tambem não quero morrer dormindo.
Quero estar bem acordado pra ver a morte chegar, olhá-la nos olhos e dizer: "bem-vinda".

Afinal, como a vida, a morte também deve ser vivida.



"Não me importaria de morrer num avião.
Seria uma boa forma de ir.
Não quero morrer dormindo
ou de idade ou de overdose.
Quero sentir como é...
Quero saborear, ouvir, sentir o cheiro disso.
A morte só vai acontecer uma vez;
não quero perdê-la"
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Jim Morrison